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O que eu não disse: Zizek e humor

Eu fui outro dia a uma convenção solipsista.
Como foi? Bem, ninguém apareceu.

 

Se fosse na história de Gênese harmoniosa, este texto pertenceria à seção “Faltou dizer”. Quando falei sobre o 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural e liguei temas sérios ao humor, mantive silêncio sobre aquele que fechou o evento em São Paulo, uma pessoa ainda mais dada ao humor: Slavoj Zizek.

Quem tivesse assistido à apresentação dele, que versou sobre os tipos de negação e sua relação com a ideologia, teria condições de dizer que meu silêncio de então era prenhe de significado. Pois é diferente “não falar sobre algo” quando esse algo não existe e quando este algo está lá, pedindo para ser lembrado.

Zizek é um intelectual de esquerda, não um lógico. Mas sua análise ideológica da cultura popular ganha muito com essas tiradas sobre diferentes negações como o não dito, o tácito, o proibido. Talvez eu não devesse ter ficado surpreso ao ouvir em sua fala a sugestão, mais uma vez, de contrastar o filme Cisne negro a Sapatinhos vermelhos; mesmo assim fiquei contente de ter feito a lição de casa antes e visto ambos os filmes.

Faltou dizer que é um prazer ir a uma palestra de um filósofo esloveno, discutindo capitalismo e comunismo, e descobrir uma raiz de uma de minhas piadas favoritas.

Esta imagem não foi um dos pontos altos do Rancho Pós-Idealista

Tampouco disse que entrevistei o sujeito para a revista Cult, ocasião em que pude falar até sobre a piada abaixo.

Quando, na virada deste século, eu mantinha no finado serviço Geocities o sítio Rancho Pós-Idealista, nós tínhamos uma seção de piadas de filosofia (em geral, humor universitário estadunidense traduzido por Tomas N.C.), donde copio a piadinha.

Meu espanto foi aprender com Zizek que, sem filósofo, a piada está no filme Ninotchka, de 1939.

O existencialista Jean-Paul Sartre está sentado à mesa de um café parisiense e é atendido pela garçonete:

– Quer beber alguma coisa, Monsieur Sartre?

– Sim, eu gostaria de uma xícara de café com açúcar, mas sem leite.

A moça anota o pedido e sai, deixando Sartre com seus pensamentos. Logo, a garçonete volta e murmura:

– Desculpe, não temos leite… pode ser sem chantili?

One reply on “O que eu não disse: Zizek e humor”

Quero pedir desculpa a quem leu duas versões desta piada neste mesmo blog. É que gosto muito dela.

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