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Quando é jogo

A palavra “jogo” suscita expectativas antagônicas: pode ser brincadeira livre ou regrada, futilidade ou seriedade. Sua invocação, portanto, pode servir tanto para desmerecer uma atividade (“é apenas um jogo”) quanto para obrigar à obediência (“são as regras do jogo”).

Esse jogo com a palavra é um dos fundamentos da peça Em nome do jogo. Quando vi o cartaz, que nada tem de lúdico, não associei o nome do autor, Anthony Shaffer, ao título original, Sleuth (em Inglês, “detetive”). Trata-se, sim, de uma tradução da peça de 1970, que em 1972 tornou-se mundialmente famosa por meio do filme conhecido como Jogo mortal.

Portanto há uma tradição brasileira em traduzir o texto favorecendo o lúdico em detrimento do policial. Não é um problema: a obra fala de crime e mistério, mas aquela questão fundamental (quando é jogo, quando é seriedade?) subjaz a toda a ação.

Na peça, um escritor de romances policiais envolve um jovem num “jogo”. Nada surpreendente, já que a literatura policial pode ser vista como um jogo entre autor e leitor (que tenta decifrar enigmas propostos pela obra). Diferentemente de um jogo frívolo, o jogo proposto pelo velho pode envolver crimes. Mesmo assim, como num jogo de cartas ou tabuleiro, o homem exige que ambos respeitem o círculo mágico, isto é, sigam as “regras”.

A atual montagem acrescenta, ao jogo entre as personagens e ao jogo de decifração proposto pelo autor à plateia, um outro nível de ludicidade. Os atores Marcos Caruso e Erom Cordeiro imprimem bastante humor à interpretação, estabelecendo um jogo metalinguístico com a seriedade da narrativa policial.

Recomendável, portanto, para adultos dispostos a brincar.

Divulgação

Em nome do jogo

Onde: Teatro Jaraguá, em São Paulo.

Quando: sexta-feira, 21h30; sábado, 21h; domingo, 18h. Até 30 de junho.

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