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Lição de casa: Mariana Muniz

Cena de Penetráveis, da Cia. Mariana Muniz (Bárbara Faustino no primeiro plano)

Fui ver Penetráveis, trabalho atual de Mariana Muniz e sua trupe.
Com ou sem conhecimento de Helio Oiticica (inspirador da obra, citado explicitamente), o espetáculo requer que  deixemos um pouco de lado a razão na hora da fruição. Isso foi difícil para este espectador, pois o jogo metalinguístico é uma armadilha (a protagonista brinca com “jogar o jogo de fingir que não está jogando”).
Temos então uma primeira parte de brinquedo disfarçado de jogo: a loucura, a não razão denunciam a razão.
Formalmente, a apresentação brasileiríssima nada tem de óbvio ou clichê.
Esse processo serve como construção do momento posterior, clímax da peça: uma franca retomada do parangolé de Oiticica. Com tudo aquilo que veio antes, a brincadeira final ganha coesão; nossos olhos já estão prontos para a exuberância do samba, da fantasia, do confete.
O fato de a apresentação acontecer às vésperas do Carnaval enriquece a experiência.

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Acabo de adquirir uma cópia do delicioso Dicionário do brasileiro de bolso, de Teixeira Coelho. Ele pode nos dar a conclusão deste texto em seu verbete “carnavalização”: “Foi preciso um russo, Mikhail Bakhtin, consagrar essa palavra para que ela fosse aceita, reivindicada, usada e abusada como categoria estética e sociológica no país do carnaval”.