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Sonho de professor

Não creio que dizer “sonhei com meus alunos” seja revelar demais da psique de qualquer professor com centenas de alunos e dezenas de horas-aula por semana. O que me chamou a atenção num sonho recente foi o formato de filme de sessão da tarde.

O clichê estava em formar, de um amálgama de meus alunos de Jogos Digitais e Comunicação, um time de futebol (ou algo do gênero, lembra-me a confusa narrativa onírica). Primeiro, o diálogo com alguns de uma multidão de alunos em graus muito diferentes de interesse e preparo mostrou as dificuldades que o profissional encontra diante do novo desafio. Uma fantasia que apareceu neste caso foi poder selecionar os integrantes de meu time. A história prosseguiu com naturalidade para o videoclipe. Imaginemos que a edição acrescentará uma música entre leve e empolgante: o professor pode recusar alunos, porém conversa com alguns “casos perdidos” e os motiva a persistir; a aluna dedicada já está selecionada, mas precisa de uma advertência, pois neste time não vai ter moleza; vários são vistos numa sequência de exercícios físicos, preparando-se para algo que não era esperado: o sucesso.

Lembrar esse sonho em meio a uma série de avaliações escolares, em que os alunos apresentam pesquisas, produzem jogos, realizam provas, fez-me pensar no estereotípico estilo cinematográfico do “filme de professor”. Alguns espectadores aceitam bem a fórmula do profissional que vence, com esforço persistente, o desafio (eu costumo cair nessa, pois persistência faz sentido). Outros podem questionar uma tendência, nessa fórmula, a desprestigiar a própria classe do professor, ao glorificar a irreverência ou qualquer método pouco usual de ensino como solução do problema.

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Imagem de “Escritores da Liberdade” (2007), protagonizado por Hilary Swank.

Existe evidentemente uma grande diferença entre o ridículo de um filme para a matinê em família e abordagens mais adultas ao tema, como Entre os muros da escola e A Onda. Mesmo assim, várias obras influentes sofrem bastante nos textos dos críticos justamente pelo tom adotado (penso em casos como Sociedade dos Poetas Mortos ou, mais recentemente, Escritores da Liberdade).

Apesar dos casos bizarros e do exagero trágico de algumas obras, filmes sobre mestres e estudantes ajudam o professor a pensar em maneiras de motivar e pôr num bom nível sua multidão de alunos em graus muito diferentes de interesse e preparo. Entretanto uma parte mais numerosa dos espectadores também precisa ajudar: os alunos.