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Queime minha língua: e/ou é ou

E/ou é ou, o Ernane é um terror

(cancioneiro popular)

 

[aviso aos jornalistas: este texto contém um nariz-de-cera]

Adoro sinais gráficos. Sempre gostei do fuçar os caracteres especiais disponíveis para cada fonte em meu programa de edição de texto. Já soube de cor vários atalhos de teclado (hoje uso apenas alt+0150 e alt+0151 para traços de comprimento diferente). Mas alguns sinais desafiam a gramática, razão pela qual considero elegante evitá-los no texto.
Não estou falando do travessão, que sintaticamente pode ser equiparado aos parênteses. Essas são formas consagradas no texto escrito.
[fim do nariz-de-cera]

Minha birra do momento é o uso da barra: “relação ensino/aprendizagem”, “Fico grato se você puder me responder e/ou mandar material sobre o assunto”.
Na maioria dos casos, a barra é usada para esconder a falta de clareza ou a preguiça de digitar: “relação de ensino e aprendizagem”.
Mas o caso “e/ou”, ao contrário, é um desperdício de espaço.
Sei que vou contrariar alguns professores. Porém, como defendi em texto anterior, enquanto a “barbárie” não vence definitivamente, é dever do chato tentar convencer as pessoas a usar uma forma mais lógica ou tradicional.
“Lógica ou tradicional” não quer dizer que não se admitem as duas coisas ao mesmo tempo, certo?
Em termos de lógica formal, traduzimos essa ambiguidade do “ou” em duas formas: “ou inclusivo” (“quero algo bom ou barato”) e “ou exclusivo” (“bom ou mau”).
Ora, quando alguém usa “e/ou”, está dizendo “ou inclusivo” e apenas gasta dois caracteres a mais na vida de todo mundo. Ademais, na maioria dos casos, o contexto ajuda a perceber qual “ou” se aplica.
Aliás, no uso natural do português já existe uma estrutura correspondente à forma lógica “ou exclusivo”, para quando for realmente necessário esclarecer que não há a possibilidade de conjunção: “ou, ou”. “Ou você mata, ou morre”. “Ou você escolhe a boneca, ou o jogo, não vou pagar os dois”.

Portanto “e/ou é ou”. Ou é contraintuitivo demais?