Categorias
arte teatro

Jazz psicodélico e videodança alegórica

Neste domingo, meu programa é no Centro Cultural São Paulo: vou ver o lançamento do disco Sozinhos entre fatias, do África Lá em Casa, e do vídeo homônimo de Cynthia Domenico (aquele em que andei figurando).

Baixei a música gratuitamente e achei de muito bom gosto.

Dia 19 de junho, na rua Vergueiro, 1.000, às 18h. Entrada franca.

Categorias
academia cinema livro política

O que eu não disse: Zizek e humor

Eu fui outro dia a uma convenção solipsista.
Como foi? Bem, ninguém apareceu.

 

Se fosse na história de Gênese harmoniosa, este texto pertenceria à seção “Faltou dizer”. Quando falei sobre o 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural e liguei temas sérios ao humor, mantive silêncio sobre aquele que fechou o evento em São Paulo, uma pessoa ainda mais dada ao humor: Slavoj Zizek.

Quem tivesse assistido à apresentação dele, que versou sobre os tipos de negação e sua relação com a ideologia, teria condições de dizer que meu silêncio de então era prenhe de significado. Pois é diferente “não falar sobre algo” quando esse algo não existe e quando este algo está lá, pedindo para ser lembrado.

Zizek é um intelectual de esquerda, não um lógico. Mas sua análise ideológica da cultura popular ganha muito com essas tiradas sobre diferentes negações como o não dito, o tácito, o proibido. Talvez eu não devesse ter ficado surpreso ao ouvir em sua fala a sugestão, mais uma vez, de contrastar o filme Cisne negro a Sapatinhos vermelhos; mesmo assim fiquei contente de ter feito a lição de casa antes e visto ambos os filmes.

Faltou dizer que é um prazer ir a uma palestra de um filósofo esloveno, discutindo capitalismo e comunismo, e descobrir uma raiz de uma de minhas piadas favoritas.

Esta imagem não foi um dos pontos altos do Rancho Pós-Idealista

Tampouco disse que entrevistei o sujeito para a revista Cult, ocasião em que pude falar até sobre a piada abaixo.

Quando, na virada deste século, eu mantinha no finado serviço Geocities o sítio Rancho Pós-Idealista, nós tínhamos uma seção de piadas de filosofia (em geral, humor universitário estadunidense traduzido por Tomas N.C.), donde copio a piadinha.

Meu espanto foi aprender com Zizek que, sem filósofo, a piada está no filme Ninotchka, de 1939.

O existencialista Jean-Paul Sartre está sentado à mesa de um café parisiense e é atendido pela garçonete:

– Quer beber alguma coisa, Monsieur Sartre?

– Sim, eu gostaria de uma xícara de café com açúcar, mas sem leite.

A moça anota o pedido e sai, deixando Sartre com seus pensamentos. Logo, a garçonete volta e murmura:

– Desculpe, não temos leite… pode ser sem chantili?

Categorias
política

Tolerância brasileira

Quando a TV por assinatura começou se popularizar, muitos perguntavam por que havia intervalos comerciais, se pagavam pela programação. Sua mensalidade já não deveria cobrir os gastos que a TV aberta paga por meio da venda de anúncios? Não é suficiente, responde a indústria.
Lembro-me também de ficar ofendido quando pela primeira vez um forro de assento de ônibus ou avião ostensivamente feriu minha dignidade.
Na semana passada viajei num avião encarando não um, mas dois anúncios a dois palmos de meus olhos.
Os monitores de vídeo não transmitiram filmes de ficção nem desenhos animados; além da propaganda institucional da companhia aérea, antes de decolar os passageiros vimos (e fomos obrigados a ouvir, a despeito da tecnologia de fone de ouvido, disponível no voo) quatro filmes de propaganda. Esse financiamento paralelo faz parte do processo de barateamento das passagens aéreas, certo?

"Você viaja de olho aberto porque quer"

No retorno, em avião de uma companhia estrangeira que cobrou menos pela passagem, não encontrei essa perversão comunicacional em nenhuma das formas citadas (mas a aeronave não tinha monitores de vídeo).

Um exemplo como esse evidentemente não é suficiente para dizer que o capitalismo brasileiro é diferente daquele vigente no resto do mundo. Mas faz pensar numa característica típica desse espírito nacional: a tolerância. A mesma virtude de tolerar o diferente, de não reagir violentamente, é o defeito de aceitar relações incômodas ou injustas.

Hoje o modelo da TV paga está estabelecido; não mais escuto questionamentos sobre pagar para ver propaganda. Nesse universo, talvez a disputa de forças do momento seja o som dos comerciais, que costumam ter um volume mais alto do que o “conteúdo” da programação.

De resto, a propaganda brasileira comercial é em geral louvada por ser tão bem produzida que a gente a considera um entretenimento, não um aborrecimento. É feio ser intolerante com os criativos.

A tolerância brasileira ao crime, à corrupção, à barbárie rende muita discussão e deve ser considerada mais importante do que as anedotas de publicidade deste texto. O singelo argumento aqui é que são todas facetas dessa mesma característica. A tolerância está sendo testada.