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Defendendo minhas causas

Capa de “Final Fantasy VII comentado”.

As últimas semanas têm envolvido um bocado de concentração na defesa de minha dissertação de mestrado, chamada Formas de fazer ficção. Um pouco de Filosofia da Linguagem e Ética deveria aparecer, mas o que ressalta é que é sobre um joguinho e um livrinho!

Fiz um vídeo de apresentação do jogo escolhido como objeto de minha pesquisa, incluindo a proposta de livro eletrônico que encerrou o processo orientado por Luís Carlos Petry na PUC-SP.

A defesa acontece a 14 de maio, às 15h, no prédio do TIDD (na rua Caio Prado), em São Paulo.

Fica o convite a todos os interessados:

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Da mitologia ao jogo, do jogo ao livro

Entretido com assuntos acadêmicos, atrasei um pouco a atualização deste blog. A boa notícia é que meu livro eletrônico está pronto! Pelo menos uma primeira versão.

Aguardo as críticas dos amigos. Se não gostarem do branco sobre azul, paciência: é o visual de Final Fantasy VII, jogo que deu origem ao livro.

“Final Fantasy VII comentado”, disponível em http://www.mario.pro.br/download/LivroFF71024x768.zip

O arquivo para Windows está sediado no sítio do Mário Pro, parceiro na concepção do produto: http://www.mario.pro.br/projetospessoais/livroff7 [observação: endereço atualizado para a página com versões do arquivo final para Windows e Mac].

Para quem prefere ler conectado à Internet: http://www.mario.pro.br/projetospessoais/livroff7

Mário apresentou nosso trabalho no VideoJogos 2011, em Portugal. Sua palestra foi disposta na forma de um jogo:

Convertendo um jogo eletrônico num livro e depois num jogo expositivo.

O jogo-apresentação pode ser baixado aqui: http://www.mario.pro.br/projetospessoais/videojogos2011

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Lista: três listas de Filosofia

Haverá algo mais metalinguístico que comparar listas de fundamentos filosóficos? Suspendo meu juízo e vou a elas:

1 – Gödel tem fé na razão

Quando manifestei interesse em resumir pontos de minha pesquisa em filosofemas, meu orientador no mestrado apresentou-me uma lista bem assertiva, resumindo o pensamento de Kurt Gödel.

Frequentador do Círculo de Viena, Gödel viu nascer e decair como paradigma o positivismo lógico. Mesmo assim, lá por 1960, segundo os biógrafos que invocam a lista abaixo, ele se recusa a ceder.

O autor em primeiro lugar reafirma algo que, desde meados do século XX, vinha sendo desconsiderado como fundamento: a razão. Em rápida tradução :

  1. O mundo é racional. 

  2. A razão humana pode, em princípio, ser desenvolvida mais elevadamente (por meio de certas técnicas).
  3. Há métodos sistemáticos para a solução de todos os problemas (e também arte etc.)
  4. Há outros mundos e seres racionais de um tipo diferente e mais elevado.
  5. O mundo em que vivemos não é o único em que viveremos ou já vivemos.
  6. Há incomparavelmente mais conhecíveis a priori do que se sabe atualmente.
  7. O desenvolvimento do pensamento humano desde o Renascimento é inteiramente inteligível.
  8. A razão na humanidade vai se desenvolver em todas as direções.
  9. Os direitos formais constituem uma ciência real.
  10. O materialismo é falso.
  11. Os entes superiores estão conectados aos outros por analogia, não por composição.
  12. Conceitos têm uma existência objetiva.
  13. Há uma Filosofia e Teologia científica (exata), que lida com os conceitos da mais alta abstração; isso é também altamente frutífero para a Ciência.
  14. Religiosos são, na maioria dos casos, maus _mas a religião não é.

(de A Logical Lourney: From Gödel to Philosophy Cambridge: MIT Press, 1996, pág. 316.)

 

Seria tão bom se vivêssemos um idealismo racionalista! Mas essa não é a prática contemporânea. Na prática, um pluralismo errante vira-se melhor. Infelizmente, isso tem servido para muita gente sem coragem omitir seu apoio ou combate a listas como essas.

É claro que o trabalho da filosofia é mais comumente explorar chatamente um tema do que reduzi-lo a máximas em uma lista. Mas é divertido criar frases que possam ser citadas.

Uma lista extraordinária consegue explorar filosoficamente temas cruciais do mundo enchendo todo um livro de aforismos numerados:

2 – O Tractatus Logico-Philosophicus subiu no telhado

Gödel parece que gostaria de ter desenvolvido sua lista à moda de Ludwig Wittgenstein (1889-1951):

Tradução de Luiz Henrique Lopes dos Santos1 O mundo é tudo o que é o caso.

1.1 O mundo é a totalidade dos fatos, não das coisas.

1.11 O mundo é determinado pelos fatos e por serem todos os fatos.

1.12 Pois a totalidade dos fatos determina o que é o caso e também tudo o que não é o caso.

1.13 Os fatos no espaço lógico são o mundo.

[…]

6.54 Minhas proposições elucidam dessa maneira: quem me entende acaba por reconhecê-las como contra-sensos, após ter escalado através delas ― por elas ― para além delas. (Deve, por assim dizer, jogar fora a escada após ter subido por ela.)

Deve sobrepujar essas proposições, e então verá o mundo corretamente.

7 Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar.

A lista de Wittgenstein é um livro e é um manifesto. A ambição de representar o mundo completamente com a lógica depois arrefeceu; o jogo assumiu outras regras.

3 – Ferramentas para fazer mundos

E vem Nelson Goodman tentando combinar, de uma maneira funcional, tantas lógicas do século XX. Agora quem pinça a lista sou eu, de Ways of Worldmaking, no capítulo 1, seção 4: “Ways of Worldmaking”.

Para entender as relações entre os diversos sistemas filosóficos, linguísticos etc. Goodman sugere um rol de ferramentas para a “construção” de mundos.

Traduzo apenas os títulos dos itens, com a introdução da seção:

“Sem pretender instruir os deuses ou outros criadores de mundo, ou tentar qualquer pesquisa abrangente ou sistemática, quero ilustrar e comentar alguns dos processos que estão na feitura de mundos. Com efeito estou preocupado mais com certas relações entre mundos do que como ou se mundos particulares são feitos de outros.

a) Composição e Decomposição

b) Pesagem

c) Ordenamento

d) Apagamento e Suplementação

e) Deformação”

Então é isso. É só pegar seu punhado de barro e mão à obra, há mundos a construir.

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Os bons homens

Alguns amigos de escola com quem mantenho contato até hoje conversaram comigo pela primeira vez numa festa de aniversário em 1990. Começava uma nova fase de nossas vidas, o ginásio. Talvez querendo exibir maturidade, atormentei os coleguinhas com máxima iniciadas com “o bom homem…”, das quais não me lembro nenhuma, mas certamente eram morais do tipo “o bom homem está sempre prevenido”.

Eu prometia escrever um livro sobre o bom homem.

Foi provavelmente em quadrinhos como esse que comecei a buscar uma fundamentação para o livro "O bom homem", projeto que não vingou.

Eu não conhecia filosofia. Não veio uma moral nem veio uma ética daí. Mas guardei essa anedota como presságio para, na faculdade de Filosofia, achar graça na proposta de estudar um autor estadunidense chamado Nelson Goodman.

O trabalho de Goodman como fonte de pesquisa surgiu como indicação do meu orientador na iniciação científica, Luiz Henrique Lopes dos Santos. Ele deve ter se divertido ao ver este jovem classificador penando para acompanhar o filósofo da linguagem, que usa uma metodologia carregada de lógica proposicional para falar sobre arte e ciência (e voluntariamente deixando a discussão ética para os outros).

Espantei-me quando, agora no mestrado, falando sobre essa experiência para meu atual orientador, Luís Carlos Petry, vi-o interessado em Goodman. Cumpri então o papel dos orientandos de levar bibliografia de um profesor a outro?

Aquele bom homem volta a se apresentar em meus escritos. A ideia goodmaniana de que um texto é uma “forma de fazer mundo” será um fundamento de minha exposição sobre o roteiro do jogo eletrônico Final Fantasy VII, no dia 27 de maio, no Gamepad.

Espero um dia participar de uma reunião com meus velhos colegas de ensino fundamental e levar a eles um livro sobre algum desses bons homens.

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A versão de mundo de Final Fantasy VII

27 de maio no IV Gamepad – Seminário de Games, Comunicação e Tecnologia

15h30, Sala 402 do prédio Azul

Campus II da Feevale – RS-239, 2755 Novo Hamburgo – RS