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Poema: Pronto

Pronto

Minha algibeira carrega pouca e cada vez menos coisa.

Vejo crescerem em volta pessoas de maiores e maiores necessidades

Carregam a cada dia mais fios e aparelhos e metem-se em máquinas

Pois isso facilita seu trabalho.

Eu trago apenas um lápis e este papel

Caso lhes queira comunicar informações efêmeras.

*

Esse poema parece casar-se bem com o texto da Soraia.

É de meu engavetado livro EF. Eu o considerava inacabado (o que contrasta um pouco com o título, é verdade). Mas os versinhos que queriam vir depois, como os aparelhos que sobrecarregam a hopla cotidiana, pareciam demasiados.

Outra ironia está no fato de que, diferentemente de poetas como Joaquim E. Oliveira (que publica fotos de cadernetas com os originais de sua poesia), tenho trabalhado pouco no papel. O poema acima nasceu anos atrás no computador, nunca teve um rascunho em bloquinho ou agenda.

Foto: Joaquim E. Oliveira
Não foi assim que eu fiz.
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Soraia Scarpa sobre papel

Há tempos venho provocando amigos a responder ao que digo. Não apenas comentar, mas responder com toda a sua indignação, com um texto que mereça um espaço maior no blog.

Logrei algum êxito. Minha querida Soraia, coordenadora de arte na editora Ática, comenta o texto Nos tempos do correletron:

Ernane disse que uma das vantagens do livro digital é a economia de papel. Isso não significa menos poluição e melhores condições de vida no planeta.
Não é segredo que a indústria papeleira é muito poluente, consome muita energia e que há controvérsias sobre uso de madeira refloestada nas condições atuais brasileiras de plantio e de colheita. Mas tenho algumas perguntas: quanto essas novas tecnologias para leitura de livros diminuirão o impacto na poluição vinda da fabricação do papel? Em quanto tempo essas invenções eletrônicas precisarão ser substituídas e trocadas? E suas baterias e telas, elas têm o descarte ideal? Quanto essa indústria tecnológica polui?
Faço essas perguntas sem considerar que os países onde esses produtos são fabricados nem sempre têm uma política de valorização do trabalhador e nem de preservação do meio ambiente.
Atualmente vivo de livro de papel. Imagino que as coisas devam mudar nos próximos anos. Mas não acho que estou sendo conservadora quando questiono isso. Até porque não vivo mais sem telinhas e baterias espalhadas nos celulares, câmeras digitais, computadores portáteis e demais inovações.

Obrigado, Soraia. Lixo eletrônico, atualização de arquivos em formatos obsoletos e custo dos aparelhos são apenas algumas das desvantagens do livro eletrônico em relação ao papel. Eu citaria ainda o conforto como travesseiro na biblioteca, só para começar.

Mas, para quem ainda não se convenceu, encerremos com um vídeo educativo.