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Papelada

Num destes dias fui buscar meu diploma de mestre. Cheio de detalhes dourados, é um belo pedaço de papel.

Por ele trabalhei dois anos debruçado em livros e artigos. Antes de encaixotar os restos da pesquisa, pensei em quanto eu ainda usei de papel, em comparação aos meios eletrônicos que se impõem com vantagem.

Daí surgiu este infográfico, que documenta com objetividade o espaço que cada porção de minha pesquisa ocupou. Talvez não seja tão engraçado quanto aquelas piadas acadêmicas que tanto aprecio, mas ficou bonito, graças à mão de meu irmão Caio Guimarães, colaborador nesta peça (clique para ampliar).

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O que eu não disse: Zizek e humor

Eu fui outro dia a uma convenção solipsista.
Como foi? Bem, ninguém apareceu.

 

Se fosse na história de Gênese harmoniosa, este texto pertenceria à seção “Faltou dizer”. Quando falei sobre o 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural e liguei temas sérios ao humor, mantive silêncio sobre aquele que fechou o evento em São Paulo, uma pessoa ainda mais dada ao humor: Slavoj Zizek.

Quem tivesse assistido à apresentação dele, que versou sobre os tipos de negação e sua relação com a ideologia, teria condições de dizer que meu silêncio de então era prenhe de significado. Pois é diferente “não falar sobre algo” quando esse algo não existe e quando este algo está lá, pedindo para ser lembrado.

Zizek é um intelectual de esquerda, não um lógico. Mas sua análise ideológica da cultura popular ganha muito com essas tiradas sobre diferentes negações como o não dito, o tácito, o proibido. Talvez eu não devesse ter ficado surpreso ao ouvir em sua fala a sugestão, mais uma vez, de contrastar o filme Cisne negro a Sapatinhos vermelhos; mesmo assim fiquei contente de ter feito a lição de casa antes e visto ambos os filmes.

Faltou dizer que é um prazer ir a uma palestra de um filósofo esloveno, discutindo capitalismo e comunismo, e descobrir uma raiz de uma de minhas piadas favoritas.

Esta imagem não foi um dos pontos altos do Rancho Pós-Idealista

Tampouco disse que entrevistei o sujeito para a revista Cult, ocasião em que pude falar até sobre a piada abaixo.

Quando, na virada deste século, eu mantinha no finado serviço Geocities o sítio Rancho Pós-Idealista, nós tínhamos uma seção de piadas de filosofia (em geral, humor universitário estadunidense traduzido por Tomas N.C.), donde copio a piadinha.

Meu espanto foi aprender com Zizek que, sem filósofo, a piada está no filme Ninotchka, de 1939.

O existencialista Jean-Paul Sartre está sentado à mesa de um café parisiense e é atendido pela garçonete:

– Quer beber alguma coisa, Monsieur Sartre?

– Sim, eu gostaria de uma xícara de café com açúcar, mas sem leite.

A moça anota o pedido e sai, deixando Sartre com seus pensamentos. Logo, a garçonete volta e murmura:

– Desculpe, não temos leite… pode ser sem chantili?

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O paradoxo das bebidas de soja

O leitor não se engane com a aparente superficialidade do tema abordado: trata-se de uma questão civilizacional.

Refiro-me ao fato de as bebidas de soja frequentarem a vida dos consumidores de maneira ambígua. O amor pelo líquido alegadamente nutritivo convive com as suspeitas levantadas pela soja transgênica e com o horror suscitado pelos desmatamentos levados a cabo em nome do cultivo desse grão.
Quanto à maioria dos habitantes das grandes cidades, para quem o leite nasce na geladeira, a questão é a substituição dos laticínios por produtos a base de soja. É verdade que o tempo da expressão “leite de soja” vai ficando para trás; mas um ranço de confusão permanece.
O paroxismo está evidente nas prateleiras dos supermercados.
“Por que a bebida de soja de sabor ‘original’ (leia-se baunilha) fica com o leite ‘longa vida’ e a bebida de soja com aroma de fruta fica com os sucos?”, é o que perguntam diariamente tantos clientes desorientados.

Tentando fugir às oposições simplistas, não tratarei aqui a soja como vilã vendida em embalagem de mocinha nem como redentora daqueles que anseiam por uma bebida mui rica. Apenas pagarei meu tributo ao tempo em que essa modalidade de bebida era menos comum e não existiam redes sociais para falar bem ou mal delas.